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Inscrever Ribeiro Santos na memória pública

Grupo de investigadores e académicos organiza conferência internacional em homenagem ao estudante de Direito assassinado em 1972

José António Ribeiro Santos está na memória daqueles que o conheceram, mas falta inscrevê-lo na memória pública, reivindica Paula Godinho, coordenadora da conferência internacional em homenagem ao estudante de Direito morto pela PIDE-DGS há cinquenta anos.

“Ribeiro Santos ficou inscrito na memória coletiva. Aqueles que o conheceram, aqueles que estavam no momento em que ele foi assassinado, aqueles que participaram no funeral dele e foram duramente reprimidos… esses não esqueceram. Esses coletivos mantêm a memória de Ribeiro Santos”, reconhece.

Mas – realça – “falta a inscrição de Ribeiro Santos na memória pública”, nomeadamente nos livros escolares de História. “Falta inscrever a memória de um jovem, que, ao participar numa reunião sobre a guerra, é assassinado”, num episódio que demonstra “que os últimos anos do Estado Novo foram também anos que mataram, não foram tempos em que a democracia aparentemente já se estivesse a preparar, como muitas vezes de diz quando se fala da ‘primavera marcelista’”. A antropóloga vinca: “Este regime democrático precisou do 25 de Abril para ser inaugurado.”

 

Ribeiro Santos está inscrito no espaço público através da Calçada Ribeiro Santos, em Lisboa, de uma foto estilizada na Faculdade de Direito, onde estudava, e de “uma placa muito maltratada perto do local onde foi assassinado”. Mas “era importante acrescentar ‘assassinado’ ao ‘militante antifascista’ que consta da toponímia. Militantes antifascistas houve muitos outros, este foi assassinado”, nota.

“As democracias são devedoras daqueles que lutaram para que elas existam. As democracias não devem nada aos torturadores, aos torcionários, aos ditadores… Devem tudo àqueles que lutaram para que elas existam”, vinca Paula Godinho.

José António Ribeiro Santos foi assassinado pela PIDE-DGS a 12 de outubro de 1972, num anfiteatro pré-fabricado do ISCEF (atual ISEG), quando participava num meeting contra a repressão e o imperialismo, vigiado por vários agentes da PIDE.

“Ao não inscrevermos na memória pública completamente o que ocorre, deixamos caminho aberto para revisões da História que podem ser perigosas. As democracias são frágeis. (…) A fragilidade das democracias requer estas políticas públicas de inscrição da memória. A memória de Ribeiro Santos não pode ficar só no seu grupo de amigos, nas pessoas que o conheceram”, sustenta.

“Inscrever Ribeiro Santos é inscrevê-lo também naquilo que se aprende na escola, é falarmos dele, é termos registos acerca dele”, frisa, referindo que é esse o objetivo do “conjunto de pessoas” que se juntou, nos 50 anos do assassinato do estudante de Direito, para, entre outras coisas, “organizar uma conferência internacional”, que juntará, na Torre do Tombo, investigadores portugueses, espanhóis, gregos e latino-americanos para refletir sobre o “papel da juventude” na luta contra as ditaduras.

“Resistência juvenil, ditaduras e políticas de memória” é o título da conferência, organizada pelo Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa e pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, com o apoio da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, que decorrerá nos dias 10 e 11 de outubro de 2022, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. No mesmo local, estará patente uma mostra documental alusiva ao tema, com materiais diversos.

Ao longo de dois dias, haverá ainda “Rodas de Memória” com gente que conheceu Ribeiro Santos, para “dar textura” à pessoa que ele era. Está também a ser ultimado um documentário, da autoria de Diana Andringa.

Joana Craveiro e o Teatro do Vestido vão fazer uma performance alusiva ao acontecimento, no Museu do Aljube, a 19, 20 e 21 de outubro de 2022, e um grupo de artistas, que inclui Alexandre Farto (Vhils), juntou-se para fazer um mural em local a definir.

Conheça o programa da Conferência Internacional: “Resistência juvenil, ditaduras e políticas de memória”: Saber Mais

#50anos25abril