Skip to main content

Presidente da Assembleia da República visita “Primaveras Estudantis”

Augusto Santos Silva visitou a exposição “Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril”, acompanhado pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.

O Presidente da Assembleia da República visitou a exposição “Primaveras Estudantis: da Crise de 1962 ao 25 de Abril”, na presença da Comissária Executiva das Comemorações, Maria Inácia Rezola, e acompanhado pelo Ministro da Cultura.

No final da visita realçou a importância desta crise académica que, a par de outros movimentos de oposição ao regime que foram crescendo, preparou o fim da ditadura. O interesse neste movimento estudantil é essencial para o pleno entendimento do processo que levou à institucionalização de uma democracia pluralista em Portugal, e ainda mais para não esquecer a razão pela qual a Democracia precisa tanto “dos jovens, da sua ação cívica e participação política e eleitoral”.

Sobre o papel dos estudantes e o relevo da crise estudantil que levou ao derrube da ditadura:

“Esse papel foi muito importante, sobretudo no derrube da ditadura, porque a força com que o movimento estudantil emergiu nos anos 60 surpreendeu o próprio regime. Mostrou, do ponto de vista social, uma clivagem muito importante e muito dura no interior do próprio regime, porque algumas das famílias ligadas ao regime descobriram que os seus próprios filhos se levantavam contra ele. E, juntamente com o início da guerra colonial, juntamente com a intensificação da oposição política, juntamente com a mudança muito importante que ocorreu nos fins dos anos 60 e princípio dos anos 70 no movimento sindical…tudo isso confluiu para que a frente de oposição ao Estado Novo fosse cada vez maior.

Os estudantes trouxeram imaginação, trouxeram criatividade, trouxeram formas de luta novas que não se tinham ainda experimentado e que também elas surpreenderam o regime: o gesto do Alberto Martins pedindo a palavra em 69, em Coimbra; o gesto dos estudantes revoltosos de 72, organizando espontaneamente uma greve de fome de 80 deles, acompanhada por centenas; o convite ao reitor para se associar…Tudo isso representou também formas de intervenção novas ou renovadas, que criaram também dificuldades a um regime tão estiolado no tempo e na sua própria letargia.”

Sobre os mecanismos que hoje a democracia oferece aos estudantes que querem fazer ouvir a sua voz:

“Do ponto de vista das instituições democráticas, [a resposta à mobilização estudantil tem] uma forma completamente antagónica ao que foi a do regime do Estado Novo reagir perante os estudantes.

Hoje em dia, não é preciso que um estudante peça a palavra numa cerimónia de inauguração ou de abertura do ano letivo, porque essa palavra está-lhe dada, é um seu direito e não há cerimónia de abertura de um ano letivo numa universidade ou um politécnico português em que representantes dos estudantes não tenham também um discurso a fazer, uma oportunidade de exprimir as suas propostas, as suas reivindicações e, muitas vezes, as suas exigências.

Também ninguém é preso por falar, ninguém é preso por se manifestar e ninguém é expulso das escolas por contestar. Portanto, a forma é completamente diferente, mas as causas também são diferentes, naturalmente. E felizmente.

Hoje em dia, os meus filhos, e agora os meus netos, já não tem que lutar por aquilo que eu lutei. Eu lutei por coisas tão simples como poder ver filmes que eu escolhesse e que não fossem proibidos, poder ler os livros que quisesse, poder escrever o que quisesse, poder reunir-me publicamente, poder participar em associações, poder votar, poder andar na rua sossegado. Hoje em dia, isso faz parte do ar que nós respiramos. Ninguém põe isso em dúvida, ninguém tem de lutar por isso.

E, portanto, [hoje] luta-se por outras coisas que não são menos importantes, mas são coisas pelas quais se luta melhor por se lutar em democracia. Desde logo, a sobrevivência do nosso próprio planeta e da humanidade. 

Eu não tenho um espírito anticombatente, não acho que no meu tempo é que era bom. Acho que os jovens e os estudantes de hoje são tão conscienciosos como os do meu tempo. Têm formas de luta próprias, têm interesses próprios, têm ideias próprias e nós devemos fazer com eles o que exigimos aos nossos pais que fizessem connosco: ouvi-los, falar com eles, respeitá-los.”

#50anos25abril